Farrucos Centro Flamenco e Grupo Farrucos de música Flamenca

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domingo, 17 de agosto de 2008

Solos de flamenco, danças de improviso, desafios e brincadeiras - por Eduarda Uzêda (Matéria publicada no A Tarde em 14/08/08)



O espetáculo Farrucos, que tem o propósito de mostrar a beleza e o vigor da dança flamenca, será apresentado no Teatro Molière, sábado e domingo, às 20 horas. A direção é de Presentación Gonzalez, que tem 32 anos dedicados ao flamenco.
No palco, solos e apresentações conjuntas que incluem brincadeiras e desafios, com a participação de seis dançarinas, cinco guitarristas e uma percussionista, além da cantora Ana Bayer.
“O flamenco é uma dança marcante, uma dança de grandes sentimentos, de grande expressão cultural, que trata da história de um povo“, destaca Presentación Gonzalez.
Alma flamenca - Presentacíon explica que a palavra farruq significa valente, em árabe, acrescentando que é um palo de origem galega que tem como características doçura, cadência e melancolia, assim como a força e a sobriedade.
Os dançarinos que se apresentam no espetáculo são Núria Leiva, Ana Latorre, Débora Nefussi, Fábio Rodrigues, Rodrigo Garcia e Presentación Gonzales. O guitarrista Yuri Cayres é outro destaque.
Ele morou durante 10 anos em Madrid, tempo em que acompanhou o Talegón de Córdoba, tendo se apresentado com Domingo Ortega, Imaculada Ortega, Pol Vaqueiro e Carmen La Talegona, dentre outros nomes.
Projetos - Outros guitarristas que estão no espetáculo são Otto Bruno, Gustavo Menezes, Daniel Veloso e Lucas Dourado, além da percussionista Mariana Martins. Ainda segundo a diretora do espetáculo, a montagem conta com cantos grandes. “que são mais tristes, mais dolorosos“, e cantos pequenos, que são “mais alegres e felizes“.
A cantora Ana Bayer iniciou seus estudos flamencos no ano de 2004 e participou de vários espetáculos junto a grandes grupos do Brasil. A cantora também participou do show do guitarrista flamenco Fernando de la Rua, no Rio de Janeiro.
O projeto Farrucos ainda contempla dois cursos: técnicas de canto flamenco, que será ministrado por Ana Bayer e Diego Zarcón, e técnicas de guitarra flamenca, único em toda região Nordeste do Brasil. Este curso será ministrado e mantido por Yuri Cayres, guitarrista que esteve por 10 anos na Espanha e reside atualmente em São Paulo.
Originalmente, o flamenco consistia apenas de canto, sem acompanhamento. Depois, começou a ser acompanhado por guitarra, palmas, sapateado e dança. Atualmente, outros instrumentos, como o cájon (caixa de madeira usada como percussão) e as castanholas foram introduzidos na dança, que tem admiradores em todo o mundo.
Serviço
Farrucos Sáb e dom, 20h Teatro Molière (3336-7599) Av. Sete de Setembro, 401, Ld. da Barra R$ 30 e R$ 15.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Flamenco por Moura – Teatro Gamboa Nova, dia 08/08/2008 por Presentación Gonzalez



Fui assistir ao espetáculo de Daniel e aconselho a você que lê: também o faça se ainda der tempo. Caso contrário, se já houver terminado essa temporada, aguarde a próxima porque vale a pena.
O Espetáculo é daqueles em que tudo se encaixa. A começar pelo título. Realmente, tudo é uma visão de Daniel sobre o flamenco...e que bela visão ele tem.
Vou começar pela escolha do teatro. Coincidência ou não, o fato é que ao entrar no local não se consegue saber onde termina o cenário e onde começa a platéia. Até porque nesse espetáculo um não termina e o outro não começa. Ao esperar na fila para entrar podíamos ouvir o som daquilo que julgávamos ser o “ensaio”. Quando entramos, porém a sensação que tive é que estava atrasada para algo que já havia começado. Todo o grupo estava em palco e não encenavam...realmente estavam ali, conversando, brincando, ensaiando, tirando dúvidas. Era o ambiente deles, o momento deles e somente ao último sinal prestaram atenção em nós.
E, então, fomos convidados para “brincar” com eles...
Tudo transpira liberdade no show: o teatro, a troca de olhares entre eles, a sedução à platéia (aliás, penso que ao menos meio teatro deve ter se rendido aos olhares, beijos e piscadelas de Daniel). Não há uma formalidade rígida de grupo. De padrão, apenas o vermelho e o preto porque todo resto é dirigido de forma livre. Cada penteado ao seu gosto, cada roupa ao estilo de cada bailaora. Nada de troca de figurino - isso era o que menos importava ali - nada de cenário, nada de alta produção...apenas a arte de cada um – duas guitarras, uma voz e 5 bailaores.

Daniel acertou em cheio! Um grande flamencólogo de Madrid afirma que o excesso de glamour no flamenco o está matando. Flamenco é arte de povo, arte de rua, arte que brota e é parida em um único instante e todo além é fútil, supérfluo. Ali, apenas “sentir” importava e todo o mais – inclusive nós, platéia – rendeu-se a isso.


A liberdade está também no repertório. Sim, Daniel passou pela sevillana, fandangos, bulerias, tarantos e nos presenteou, também, com expressões totalmente contemporâneas. De fato, um flamenco por Moura, contemporâneo, flamenco, ator.
Aplausos de pé para a linda Maria Chacón. Conversei com ela no final do espetáculo. Além do flamenco ela canta uma música de “Ojos de Brujo” e ainda brinda o público com uma Nana e com a música “Anda Jaleo”, ambas compilações de canções e letras espanholas feitas por Manuel de Falla e Garcia Lorca. Ainda que apenas fosse para ouvir Maria cantando, o espetáculo já valeria a pena.
Linda a cena final do espetáculo. Fica na memória de quem sai do teatro. Mas sobre ela, não da pra contar. Melhor conferir ao vivo.
Parabéns meu querido Daniel, parabéns ao grupo Flamencantes e obrigada pela maravilhosa noite!

sábado, 2 de agosto de 2008

FESTA DE SANTIAGO APÓSTOL – CLUBE RIO TEA (27/07/08) por Presentación Gonzalez

Lembro que durante a minha infância, todos os anos fazíamos uma verdadeira excursão anual. Morávamos no Rio Vermelho e sair de lá naquela época para ir para o TEA era quase uma viagem.

Quando meus pais anunciavam “vamos ao Tea...” era quase o anúncio de um castigo...Na ansiedade de nossa infância a viagem de carro era interminável, a luta para encontrar um lugar para estacionar, um martírio...mas o parque do Tea acabava sempre valendo a pena....Muito mais coisas entravam nos “pequenos” que brincavam no parque além da areia nos sapatos...e nós nem nos apercebíamos disso..

E, creio, não fazia essa viagem desde meus 10 ou 12 anos. E a festa, como sempre, foi linda e o churrasco estava ótimo e as sardinhas com sabor de infância.

O show começou com a apresentação de “Os Celtas”, um grupo de gaitas composto em sua maioria por imigrantes espanhóis. Me peguei em uma situação “diferente”. Agarrei meus dois filhos (ela com 6 e ele com 5 anos), me sentei no chão em frente ao palco e me surpreendi com a minha ansiedade para que eles ouvissem e amassem aquilo. É...sou uma autêntica galleguiña.

Dois pontos altos da apresentação deles para mim:



  • A primeira quando eles tocaram a mesma música que meu pai cantava desde que me entendo nesse mundo. Os mais velhos ajudaram no coro e eu, quase às lágrimas, lembrando meu pai, cantando no ouvido de meus filhos: “adiós com el corazón, que com el alma no puedo...tu serás el bien de mi vida, tu serás el bien de mi alma, tu serás el pájaro pinto que alegre canta por la mañana.”



  • A segunda foi vê-los no palco. O orgulho, a paixão deles.

Nesse momento eu pensei....como somos burros...Definitivamente, eles são um mar de conhecimento, um mar de informações sobre toda a história da emigração gallega e que estamos perdendo ou, pior, estamos deixando perder. A luta daqueles gaiteiros (destaque para o Sr. Penedo...pessoa que comecei a amar em Seabra quando o descobri de uma sabedoria sem fim...) para preservar a cultura e a tradição deles é admirável.

Isso irá se perder, infelizmente. O que virá por aí...será mera sombra, disforme, do conhecimento desses homens. Lindo quando eles tocaram “Asa Branca” na gaita, emocionou o público, animou os jovens...normal...mas a sabedoria deles está muito além das gaitas, por trás delas...essa música não devemos deixar de ouvir ou devemos permitir que nossos filhos e nossos netos possam também ouvir.

Em seguida, chegaram as “meninas” do grupo Bailaores, dirigidas por Margareth Lusquiños, lindas! Parabéns meninas...parabéns Margareth pelo seu trabalho lindo, pela paixão com que você trabalha...

Para quem não foi: ainda que seja uma viagem sair de Salvador para Lauro de Freitas, eu garanto...vale a pena...a viagem é bem maior que a estrada.

Para os filhos dos imigrantes, é um retorno à infância, um retorno às festas de nossos pais e seus amigos reunidos, com as mesmas canções. Para os imigrantes, é um retorno a casa, com a capela de Santiago Apóstol, com o canastro lembrando a “aldeia”; para as pessoas daqui, é uma viagem cultural, um encontro com um outro mundo, uma outra forma de amar tão arrebatadora como todas as formas de amar....

Até o próximo ano...